Criticar é fácil e estou cansada de ver e ouvir críticas sem fundamento. Critica-se o que não se conhece em tom de “dono-da-verdade” como se fosse doutorado no tema que é alvo da crítica.
Não me sinto apta a criticar o projeto anti-homofobia do MEC, pois não o conheço, mas posso sim criticar o direito de conhecê-lo que me foi arbitrariamente retirado.
A suspensão da distribuição do, pejorativamente chamado, kit-gay às escolas deve ter seus motivos, mas por que não disponibilizar o material para que educadores, como eu, pudéssemos entendê-los?
Quando soube que a Presidente Dilma Rousseff havia determinado a suspensão do kit anti-homofobia, corri ao Portal do MEC em busca da cartilha, dos vídeos, de alguma descrição do projeto para tentar compreender o veto presidencial, mas não tive sucesso. E olha que sou boa em buscar coisas na Internet...
Encontrei os vídeos no YouTube, mas parece que foram postados meio como uma droga que se distribui ilegalmente ou, já que o assunto envolve escola, meio como uma “cola” que se passa disfarçadamente por baixo da mesa. Digitei “anti-homofobia” no YouTube e não achei nada. Experimentei “kit-gay” e apareceram os vídeos!
Ouvi qualquer coisa sobre a Presidente ter sido pressionada pela bancada religiosa da Câmara. Eu nem sabia que havia uma bancada religiosa... Se o ensino no país deve ser laico, por que há uma representação eclesiástica no governo? E o que é que tem a ver religião com combate à homofobia? Jesus não pregou o amor ao próximo? Discriminação, qualquer que seja, é uma forma de ódio e justificativa para guerra.
Sexo é um assunto tão difícil de ser tratado no Brasil que até parece que somos um povo assexuado, o que contrasta com nossa imagem estereotipada no exterior: corpos dourados e suados com muita pele à mostra. Nos Estados Unidos, a depilação à cera dos pelos pubianos é conhecida como Brazilian Wax, pois a sensualíssima mulher brasileira é famosa por usar biquínis tão pequenos que deixariam os pelos de fora.
Então, por que não podemos discutir abertamente a questão da sexualidade? Será que se eu sair em defesa de um gay, vou ser considerada gay também? E daí?
Sou heterossexual, mas isso não foi uma escolha minha, assim como não escolhi ser branca nem nascer no Rio de Janeiro. O negro não escolheu ser negro, mas é discriminado por isso, assim como o nordestino que migra para o sul e é discriminado por seu sotaque. O homossexual também não teve opção, mas é discriminado por isso. Quem é que vai ser um pária por escolha? Não tem essa de “opção sexual”. Vou optar por ser infeliz com meu próprio corpo e ter que lutar para ter a aparência exterior que minha natureza interior cobra do espelho? E virar motivo de chacota por isso? Não acredito...
Bem, voltando ao material preparado pelo MEC e vetado pela Presidente, gostaria de mostrar aqui um dos vídeos que consegui copiar (talvez sejam retirados do YouTube, quem sabe?) e que tem algo a ver com a minha escola. Este ano, um(a) aluno(a) transexual esteve matriculado(a) numa das turmas do turno da manhã. Só trabalho à tarde e nem cheguei a conhecê-lo(a). Também não sei as razões, mas soube que abandonou a escola antes das provas da primeira etapa. Talvez o problema comece na Língua Portuguesa que dá gênero a qualquer objeto e me obriga a ficar colocando (a), (a), (a)...
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