O assédio moral, ilícito e muitas vezes silencioso, traz consequências desastrosas para o vitimizado e para a sociedade. Ele tem como pano de fundo uma questão crucial nos dias de hoje: a ética.
Vivemos uma crise ética que desemboca na quebra nos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, como a lesão à dignidade. O assédio moral nas escolas causa danos profundos no indivíduo, e na sociedade onde está inserido; importante se faz refletir como combatê-lo a fim de assegurar um bom ambiente à pessoa em desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade conforme prescrito no Estatuto da Criança e do Adolescente ( ECA). É necessária a prevenção, a compensação e até a penalidade para que cada ente assuma o seu papel responsavelmente.
Parte-se do suposto que é na escola que o indivíduo tem o papel de ser orientado e cuidado para que exerça a cidadania de forma ampla, capaz de internalizar seus deveres e ser detentor de seus direitos. Quando ocorre o assédio moral nesse ambiente, quebra-se um elo de ouro na educação. A dor da humilhação provocada por ela fere o indivíduo reduzindo-o a um quase nada. Leve-se em conta a resiliência: capacidade humana de lidar, superar, aprender ou mesmo ser transformado com adversidade inevitável da vida. O desafio é encontrar o caminho para promover a resiliência em indivíduos, em famílias, comunidades. A resiliência é uma força de resistência e de recuperação... Como saber que aquele indivíduo que sofreu o assédio na infância e adolescência terá a resiliência suficiente para superar a agressão?
Assédio Moral entre Superiores (professores, coordenação, direção, entre outros) e alunos: é conhecido como assédio vertical, devido a relação hierárquica estabelecida entre as partes.
Pode ser:
1- Assédio Descendente: quando o assediador é o superior e a vítima o aluno;
2- Assédio Ascendente: assediador é o aluno e a vítima o professor, inimaginável há tempos atrás, pode provocar uma desestabilização da ordem mínima para atividade educacional adequada.
Falando do assédio descendente, foco do artigo, sua identificação pode ser iniciada por queixas explícitas da vítima, aos seus pais ou responsáveis. Porém nem sempre estes acreditam em tais queixas, visto que estes sabem da importância da disciplina na educação. Assim, a qualificação do assédio moral fica prejudicada, perpetuando o problema até consequências mais graves possam ser observadas.
O assédio nos remete à questão da ética e da moral, tentando entender as motivações do assediador, identifica-se um indivíduo "destituído das virtudes típicas dos cidadãos de alma nobre". O manipulador do assédio moral é movido por diversas razões, que variam de inveja ao desejo do poder, é certo que a virtude moral é decorrente do hábito e não da natueza humana. Aqui encontramos o "bullying", termo que vem do inglês: to bully, que significa tratar com desumanidade, com grosseria; e bully é uma pessoa grosseira e tirânica que ataca os mais fracos. A partir daí pode-se imaginar as consequências e o desenvolvimento dos distúrbios psicossomáticos da vítima: emagrecimento ou aumento de peso, distúrbios digestivos (gastrites, colites, ulceras), distúrbios endócrinos (tiróide), hipertensão arterial, vertigens, doenças de pele, etc...
O assédio moral pode provocar uma destruição da identidade e influenciar por muito tempo no temperamento da pessoa. "Pode-se curar um ferimento causado pela espada, mas não um ferimento causado pela palavra". É na escola que devemos assegurar os princípios fundamentais da Carta Magna, não apenas visando a punição do assediadores, mas sobretudo elaborando uma política de prevenção, com o fim de assegurar a formação do indivíduo para que ele se torne um cidadão ético e equilibrado para ser capaz de contribuir para evolução da humanidade. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.(Art. 18 do ECA).
Algumas categorias envolvendo constrangimento e humilhação:
- agressão física: ameaçar ou agredir fisicamente o aluno, atirar objetos no aluno para chamar sua atenção
- agressão verbal ao aluno: usar de forma abusiva a autoridade, tratar de forma pejorativa o aluno com palavras de baixo calão
- ameaças aos alunos: aumentar o nível da dificuldade das provas, ameaçar reprovar a turma se não estudarem, ameaçar de expulsão quem opina em sala de aula.
- acusação agressiva e sem prova: alegar de forma agressiva e sem prova que os alunos colaram, revistar de forma agressiva o material dos alunos.
- assédio sexual: assediar sexualmente o aluno convidando-o a ir à casa do professor, incitando-o a manter relações sexuais proponde-lhe permuta de notas
- comentários depreciativos, preconceituosos ou indecorosos: sobre orientação sexual, aparência ou deficiência física, criticar a profissão do aluno, criticar religião, queixar-se em sala de aula ou perante outros alunos da vida pessoal do aluno, tecer comentários pejorativos sobre habilidades, seu nome
- tratamento discriminatório: devido à aparência física ou condição financeira, discriminar alunos com idade mais avançada, privilegiar alunos com maior facilidade de aprendizagem
- rebaixamento da capacidade cognitiva dos alunos: comparar alunos de forma irônica, aconselhar alunos a abandonar curso alegando incapacidade do mesmo, enaltecer conhecimentos próprios, fazer comentários em público sobre dificuldades, desempenho e erros dos alunos
- desinteresse e omissão; não repassar orientações para trabalhos, desinteresse ao ministrar conteúdo
- uso inadequado de instrumentos pedagógicos: exercícios valendo nota, prova sem tempo hábil.
Assim, termino: "O homem é um animal cheio de mansidão e de essência divina, se é tornado manso por meio de uma verdadeira educação; se, pelo contrário, não recebe nenhuma ou a recebe falsa, torna-se o mais feroz de todos os animais que a terra produz".
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