Fessora Geração Z
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." (Cora Coralina)

Crônica de uma Greve Anunciada





Pois é gente... greve a partir de hoje, 03 de agosto de 2011, e não sei quando irá terminar...



Assisti à transmissão da assembleia pela Internet e  passava pouco das 16 horas quando aconteceu a votação e a proposta de greve foi ovacionada pelos presentes (vídeo abaixo). Era previsto que isso iria acontecer. Estamos há nove anos sem aumento, com perdas salariais calculadas em 55,5%, e a Faetec nos oferece 3,5% quando pedimos 26% de reajuste emergencial. Só podia dar no que deu. Ontem, na prévia feita no ISERJ, mais da metade dos professores votou por greve por tempo indeterminado. O restante absteve-se de opinar e apenas um professor posicionou-se contra a greve. Não sei como avaliar essa votação, pois havia uns 60 professores presentes, mas pelos papos que andei ouvindo na sala dos professores, a maioria vai mesmo parar. E daí? O que é que a gente faz agora?



Muitos dizem que quem não faz greve é covarde. Quero ver a coragem de enfrentar um piquete na porta e entrar na escola pra trabalhar sob os olhares dos colegas grevistas que estão arriscando a pele para conseguir uma melhoria que, no final, beneficiará também àqueles que não fizerem greve. Mas será que é assim mesmo?



Nosso ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, notabilizou-se como representante do Sindicato dos Metalúrgicos que liderou uma greve da categoria em 1977. Eu disse: 1977! Em 1977 eu estava correndo de policiais montados em cavalos gigantescos que usavam para dispersar as passeatas. Era outro mundo, era outro momento. Vocês conseguem me imaginar com cabelo escuro, bem comprido e cacheado, vestindo saia indiana e calçada com chinelos de sola feita com pedaço de pneu? Pois é, era assim que eu andava pelas assembleias da UNE que aconteciam em auditórios escuros nos quais não se podia falar alto para não chamar a atenção da polícia militar que já entrava de cassetete na mão distribuindo paulada.



Quando eu disse nas minhas turmas, essa semana, que haveria piquetes de grevistas na porta da escola, muitos me perguntaram, “O que é piquete?”. Diretamente do “Aurélio” pra vocês:



“pi.que.te(ê)



Substantivo masculino.



1.Corpo de soldados que formam guarda avançada.

2.Pequena estaca que se crava no terreno para marcar um ponto em trabalho topográfico.

3.Bras. Grupo de funcionários que se posta à entrada de empresas para impedir a entrada de outros, por ocasião de greve.



O mais velho dos meus aluninhos já nasceu na década de 90 e nem sabe do que se trata. Vocês têm a sorte de ter nascido num país livre e essa liberdade foi conquistada pela mobilização de um povo que foi à luta protestando nas ruas. Brigamos e ganhamos! Agora não estaria na hora de virar a página?



Ainda há razões pelas quais se deva lutar? Claro que sim. A luta continua, companheiros! Só acho que podemos ser mais criativos na nossa forma de reivindicar nossos direitos. Ah! E nunca – jamais e em tempo algum – nos esquecermos dos nossos deveres.



Eu quero um melhor salário! Eu quero receber vale-transporte! Eu quero ter uma sala para montar um laboratório de Matemática! Eu quero ter o elevador da escola funcionando! São alguns dos meus direitos e acredito que ninguém ache que estou pedindo alguma coisa absurda.



Mas também tenho meus deveres e, dentre eles, está o de oferecer o melhor ensino possível aos meus alunos, dentro das condições que me são oferecidas, e vou continuar tentando fazer isso. Por essa única e simples razão, não vou aderir à greve! Não estou preocupada em perder as férias nem em ter que trabalhar nos finais de semana para repor as aulas perdidas. Já tivemos 12 paralisações na escola esse ano, mas acredito que, por enquanto, ainda estamos dentro do número mínimo de aulas exigidas pelo Estado. Hoje houve uma paralisação e eu dei minhas aulas normalmente. A partir de amanhã haverá greve e eu continuarei a ir à escola para dar aulas e minha prova da 2ª etapa continua marcada para o dia 12 de agosto, até segunda ordem.



Hoje eu falei com as minhas turmas que eu não trabalho em linha de montagem. Numa metalúrgica, como aquela em que trabalhava o Lula há 30 anos, o cara que colocava a porca não podia trabalhar se o outro, que colocava o parafuso, estivesse em greve. Eu não dependo de outro professor para dar a minha aula, mas dependo dos alunos e só posso “furar” a greve se vocês forem à escola. Mandei aquele e-mail – considerado E-NOR-ME – no dia 17 de julho, pedindo a vocês que falassem sobre o assunto em casa, com as famílias. Não tive UMA ÚNICA RESPOSTA. Hoje, por exemplo, tive 33% de presenças na Turma 1.113 e 54% na Turma 1.209. Vamos ver como vai ser amanhã, mas não posso chegar na diretoria dizendo que vou continuar a dar aulas e provas se só tiver um pingo de alunos em sala de aula! Sexta-feira, dia 05 de agosto, vou estar na escola, às 13 horas, esperando pelas turmas 1.109 e 1.110 que têm, inclusive, que entregar um trabalho para nota. E se os alunos não aparecerem?



Está na hora de VOCÊS se posicionarem. Não pensem pela minha cabeça, nem pela cabeça dos professores A, B ou C. Avaliem o movimento, informem-se sobre as reivindicações dos professores e sobre as propostas do governo para atender a categoria. Depois, se for o caso, tomem algum partido.



Deus nos ajude!











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