Fessora Geração Z
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." (Cora Coralina)

O Princesa



1961. Eu, com 4 aninhos recém completados, entrava pela primeira vez no lugar que seria minha segunda casa por um longo tempo: o Colégio Princesa Isabel (à época, Instituto Princeza Izabel), na Rua das Palmeiras, 46, em Botafogo.
Como minha mãe decidiu esperar que eu completasse 4 anos antes de me matricular na escola, e meu aniversário é em maio, entrei na turma depois de mais de dois meses do início das aulas, ou seja, tempo bastante para que já se tivessem formado os grupinhos de amigos na sala do jardim de infância da Tia Hildete. Lembro-me exatamente das mesinhas com tampo de fórmica azuis e rosa para “separar” meninos e meninas. Fui colocada em uma mesa com outras três meninas que nem me olharam duas vezes e continuaram a fazer suas pinturas com dedo em folhas de papel branco. A professora me deu uma folha e dois potinhos de aquarela – verde e amarela – e comecei, timidamente, a fazer minha pintura, sempre de olho na minha mãe, sentada num banquinho minúsculo conversando com a “tia”. Parece que nem pisquei e, de repente, minha mãe não estava mais lá! Abri um berreiro daqueles que só as crianças sabem fazer, com lágrimas grossas escorrendo até pelo pescoço. Meu choro sentido não trouxe minha mãe de volta, mas fez com que as meninas da mesinha cor de rosa se compadecessem e uma delas me emprestou a aquarela azul. Até hoje guardo aquela folha, agora amarelada, com minha primeira tarefa no colégio onde estudei até 1975, saindo de lá direto para a universidade.
Em 1978 passei um ano como estagiária no colégio e tive minha primeira experiência como professora no mesmo lugar onde tive minha primeira experiência como aluna. Depois, lecionei como professora efetiva de 1994 a 2005. Fui demitida do colégio quando foi comprado por um novo diretor que já o recebera em decadência quando das 12 turmas por série no Ensino Médio que havia em 94, a escola mal e mal formara 3 turmas em 2004. O novo diretor também era professor de Matemática e, para economizar, decidiu demitir o mais antigo da equipe e assumir as turmas ele mesmo. O mais antigo não podia ser demitido por tratar-se de um diretor do sindicato de professores e a segunda mais antiga era eu, daí...
Essa política de demitir os profissionais mais antigos e que, consequentemente, têm maiores salários, pode até servir em algum tipo de empresa, mas uma escola é um tipo de negócio diferente. Normalmente, os mais antigos tornaram-se antigos por uma série de fatores que, de alguma forma, determinaram a satisfação da clientela e retirá-los do sistema pode desencadear um colapso. Soube, há poucos dias, que o Princesa Isabel está para fechar as portas. Torço para que seja apenas um boato, mas um colega que trabalha numa escola vizinha me contou que receberam, num só dia, 20 pedidos de matrícula vindos de ex-alunos do Princesa.
Há muito de mim naquele colégio. Estudei lá por 14 anos e lecionei por 11. Meus filhos se formaram no Princesa e fiz ali muitos amigos, entre colegas professores, funcionários e alunos. Vai ser uma parte da minha história que irá perder a continuidade se algum dia a escola vier a acabar, mas as lembranças de todos os bons e maus momentos que ali vivi ninguém vai tomar de mim.
Tomara que seja só um boato...
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"Sou apenas uma caminhante que perdeu o medo de se perder. Que eu saiba perder meus caminhos, mas saiba recuperar o meu destino. Com dignidade."

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